menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

O Chega não quer governar, quer alertar

10 0
24.05.2025

É intelectualmente preguiçoso — e politicamente estéril — reduzir o eleitorado do Chega a uma turba de racistas, xenófobos e saudosistas do século passado.
Ainda que essa caracterização seja tentadora para os mais moralistas de serviço, peca por excessiva e, sobretudo, por inútil. Um milhão e quatrocentas mil pessoas não se dissolvem com epítetos fáceis. E se queremos compreender o país — e, vá, tentar governá-lo — talvez valha a pena escutá-lo antes de o insultar.

Comecemos por um exercício básico: olhar para o mapa.

O Chega cresce sobretudo no sul e no interior — distritos como Beja, Évora, Portalegre, mas também zonas urbanas periféricas como Loures, Sintra, Setúbal. Lugares onde o Estado tarda, onde os serviços públicos chegaram tarde ou mal, onde a mobilidade social está entalada entre salários baixos e rendas altas.
A abstenção, em muitos desses concelhos, andou sempre de mãos dadas com a frustração. Mas eis que alguém aparece a dizer o que ninguém se atrevia a dizer — com simplismo, claro, mas........

© Observador