Trabalho e a reconstrução do elevador social
Vivemos num país onde o trabalho é glorificado em discursos, mas castigado na prática. Onde se enaltece o esforço nas campanhas institucionais, mas se estrangula o seu fruto nas folhas de vencimento. A justiça fiscal, um conceito tantas vezes invocado e raramente concretizado, continua a ser uma miragem para quem, todos os dias, sai de casa antes do nascer do sol e regressa já depois do pôr do sol, apenas para descobrir que o Estado lhe ficou com quase metade do salário. E o mais trágico não é apenas isso. É a resignação. A aceitação tácita, quase cívica, de que quem trabalha mais deve ser mais tributado. Como se fosse natural.
O país precisa, com urgência, de uma política fiscal que deixe de castigar o esforço. E aqui a proposta é clara: isenção total de IRS sobre o trabalho suplementar: horas extraordinárias, feriados, noites e fins-de-semana. Tudo aquilo que representa sacrifício pessoal deve ser reconhecido como tal, não com medalhas, mas com rendimento líquido.
Não falo de uma medida simbólica ou de uma isenção parcial. Falo de uma inversão total da lógica........
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