O momento em que o lugar já não é nosso
Há momentos na vida política em que o silêncio se torna insuportável. Não por vaidade, mas por consciência. Não por ressentimento, mas por fidelidade – não a pessoas, nem sequer a partidos, mas àquela exigente e solitária ideia de coerência que nos atormenta quando nos deitamos. Não há dignidade possível quando o desconforto se normaliza, quando a convicção é tolerada como excentricidade, e o compromisso com os princípios se torna um embaraço para a estratégia.
Recentemente, fui confrontado com essa encruzilhada: o dilema entre manter um cargo ou honrar um valor. E, como outros antes de mim, percebi que às vezes a única forma de permanecer inteiro é sair. Foi uma decisão difícil, mas não amargurada. Apenas lúcida.
Na política portuguesa, há uma altura particularmente fértil para estas decisões: o momento em que se elaboram listas de........
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