Democracia em crise
A política, em tempos de crise, revela não apenas o carácter dos seus protagonistas, mas sobretudo o nível de compromisso das instituições com a estabilidade e o interesse nacional. Não há nada mais pueril e irresponsável do que, perante um país a braços com desafios económicos estruturais, um cenário geopolítico europeu cada vez mais volátil e uma administração pública a precisar de reformas profundas, transformar a governação num imbróglio parlamentar digno de uma república de opereta. Há, de facto, momentos em que a nobreza do ofício exige que se diga, sem rodeios nem eufemismos, que se lixem as eleições e que se governe.
A incontinência eleitoral como solução mágica para todas as crises não é apenas um delírio adolescente de quem nunca teve de gerir nada mais complexo do que a sua conta de Twitter. É uma tentação populista, um engodo disfarçado de higienização democrática que ignora as consequências nefastas de um país que se habitua a viver em campanha permanente. É um desvario demagógico, um exercício de exibicionismo político que coloca a vaidade de uns acima do bem-estar de todos. A farsa é ainda mais........
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