Newtons e Hernânis
Há políticos que, como qualquer ser humano, cometem erros. Uns voluntários, outros involuntários. Uns legais, outro ilegais. Uns mais, outros menos graves. Todos têm direito à presunção da inocência e a um julgamento justo — que é, naturalmente, o que se impõe num Estado de Direito. Mas há factos (comprovados ou assumidos pelos próprios) que dispensam decisão judicial para que se possa aferir a falta de ética ou a fraca credibilidade do político. E isso não tem nada a ver com o trânsito em julgado, mas com a coloquialmente chamada vergonha na cara. Ou, melhor, a falta dela.
Vejamos dois estudos de caso: Hernâni Dias e Luís Newton. Comecemos pelo antigo secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território. Hernâni Dias disse sempre estar disponível para prestar todos os esclarecimentos, mas, mesmo perante os deputados, deixou pontas soltas, deu informação incompleta e, cereja no topo do bolo, ainda foi desmentido pela Entidade da Transparência — que se sentiu abusivamente visada pelo antigo governante.
O filho de Hernâni Dias morou, durante a faculdade, num apartamento na zona do Porto. Houve, porém, duas coincidências inquietantes reveladas por investigações da RTP: o proprietário era o filho de um dos sócios da construtora suspeita no caso judicial; e foi comprado sete meses depois do município de Bragança, presidido por Hernâni Dias, assinar contrato com essa mesma construtora.
Aos deputados Hernâni Dias limitou-se a dizer que na mesma casa também morava outro jovem (ou outros dois, em determinados momentos) e que pagavam exatamente o mesmo que o filho. Além disso, garante, tinha as os comprovativos com os pagamentos todos. Não disse, no entanto, em nenhum momento quanto pagava o filho: já se percebeu que não ficou de borla no apartamento, mas não ficou claro se houve um preço de favor. Havendo suspeitas afigura-se necessário saber se pagava 100, 200 ou 300 euros ou — mais importante do que isso — se foi acima ou abaixo do praticado pelo mercado. Sobre isto o........
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