Paz para Moçambique
Fábio Cipriano Alberto estava, como o próprio descreveu na visita que Venâncio Mondlane fez à sua casa (cf. vídeo a partir do minuto 27), “a bater panelas” num dos primeiros dias de manifestações pacíficas que contestavam os resultados eleitorais. Após as forças de segurança lançarem gás lacrimogéneo, Fábio e as suas amigas dispersaram, regressando a casa. Ao chegar ao bairro, foi perseguido por quatro polícias que o balearam – com balas reais. Já caído no chão, pisaram-no duas vezes, deixando-o moribundo, à sua sorte. Viu a morte a corroer-lhe o corpo. A fortuna salvou-o, empurrando-o, ainda assim, para uma cama onde tenta recuperar. Fábio é o sustento de uma família que, por essa razão, se encontra hoje ainda mais fragilizada.
Olívio Vicente Mondlane foi alvejado com seis tiros, conservando ainda duas balas alojadas no corpo. Apesar das dores físicas, o seu maior sofrimento, diz-nos (cf. vídeo a partir do minuto 34), é psicológico, pois não consegue dormir mais de duas horas por dia e vive em constantes ataques de pânico. Precisa de medicamentos que chegam de Portugal, enviados por uma mão amiga solidária ao seu caso.
Ana Zacarias Ngovene caminhava calmamente para casa, no passo típico de quem transporta um filho no ventre. Não participava em qualquer protesto ou ação política. Um carro da UIR passou por ela e disparou, deixando-a prostrada no chão. Por duas vezes regressaram, sem lhe prestar assistência. Não fosse uma alma caridosa que por ali passava, e Ana teria ficado a definhar na rua, com o seu filho por nascer. Vive hoje com uma bala que não pode ser extraída, sob risco de provocar a morte do bebé. Como contou (cf. vídeo a partir do minuto 39), os médicos não garantem sequer que a bala possa ser removida após o parto.
Eugénio Firmino foi perseguido por dez polícias e baleado repetidamente. Uma única bala bastou para o mutilar, atirá-lo ao chão........
© Observador
