menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Mestres e Bonifrates

8 1
12.02.2025

A ninguém terá passado despercebido o manifesto empobrecimento, quando não esgotamento, da nossa belíssima língua. Não há muito – século XIX e mesmo XX -, a língua tinha outro fôlego e os homens de letras não hesitavam quando confrontados com a escolha entre uma palavra corrente e esses ‘riquíssimos minérios do mais fino ouro”. Escrevessem eles hoje, evidentemente que seriam apupados e considerados pernósticos ou barrocos.

Como prova do que dizemos bastará compulsar um livro de Camilo Castelo Branco ou Aquilino Ribeiro e cotejá-lo com obras contemporâneas, cujo mérito estético (por vezes até superior) é irrelevante para o propósito deste artigo.

Ora, não necessitamos de um Wittgenstein para saber que o tamanho do nosso mundo é equivalente ao arsenal do nosso conhecimento e que esse conhecimento apenas se manifesta e é compreensível através dessa construção colectiva chamada linguagem. Assim é e continuará a ser, pelo menos até essa curibeca de transhumanistas demoníacos não lograr robotizar a espécie inteira, induzindo-nos chips que possibilitarão a comunicação mental instantânea e, portanto, desumanizando-nos em nome do progresso.

Naturalmente, a pergunta que se impõe, contanto que não nos tenhamos demitido do dever de pensar, é simplíssima: cui bono? Quem beneficia com esta mutilação e indigência da linguagem, que nos enclausura em pequenas bolhas incomunicáveis nas quais vivemos dilacerados por sentimentos que somos incapazes de explicitar (justamente porque nos servimos de uma linguagem exangue, como necrófagos banqueteando-se em........

© Observador