O Essencial é Invisível aos Olhos
É lamentável, inaceitável e incompreensível que a agenda política ignore aqueles que são os principais problemas da sociedade e do mundo contemporâneo. Os grandes temas do nosso tempo, sejam internos ou externos, ficaram largamente fora da discussão durante a campanha eleitoral das legislativas, e os poucos relevantes efetivamente aflorados foram-no de um modo superficial, parcial e/ou titubeante e, portanto, politicamente inconsequente.
As grandes figuras políticas dos 50 anos da nossa democracia foram políticos corajosos e que sempre se atravessaram por aquilo em que acreditavam, sem pejo em entusiasmar uns e antagonizar outros. Mário Soares, Sá Carneiro e Cavaco Silva foram exemplos disso. Eram amados por uns, odiados por outros, mas tinham uma ideia e uma visão para a sociedade e para o país. Se António Guterres foi o primeiro grande bloqueio à decisão, António Costa corporizou o imobilismo absoluto, não fazendo qualquer uma das reformas necessárias ao país. Luís Montenegro, por convicção ou falta de condições políticas, parece seguir a mesma sina. Vejamos alguns assuntos que ficaram de fora da recente disputa eleitoral.
Não se falou de Segurança Social a sério, nem da sua sustentabilidade a longo prazo, a qual está tudo menos garantida. Não se discutiu que, se hoje os portugueses se reformam com mais de 70% do seu último salário, esse valor reduzir-se-á progressivamente para os 40% ao longo dos próximos 30 anos. Este assunto deveria ser aflorado para, desde logo, os contribuintes saberem com o que poderão contar e se precaverem de tamanha perda remuneratória numa fase avançada das suas vidas. Dever-se-ia estudar e propor alternativas para mitigar esta realidade — alternativas essas que vão desde o aumento das contribuições, ao aumento da idade da reforma, ao incentivo a produtos de poupança voluntária, a uma contribuição dos setores com maior peso de automação, e por isso com menos trabalhadores, entre outras, sem dogmas e com realismo. Não há varinhas de condão, mas não é certamente enterrando a cabeça na areia, fingindo que o problema não........
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