Sai um almirante para escanteio
O almirante, o ainda não candidato à presidência da república que, todavia, está-se mesmo a ver que vai ser, é só fumaça. Há dias deu à estampa, no mais conceituado semanário, um manifesto. Mas depressa veio esclarecer que não era um manifesto. Dando seguimento às tergiversações mal fingidas que enfeitam a postiça postura como candidato a candidato, o almirante reformado destapou o véu do seu “pensamento político” (as aspas não são por acaso).
Para sossego da imensa mole que gravita no albergue centrípeto da paisagem política (o “centrão”), o almirante anunciou que está entre a social-democracia do maior partido do governo e o socialismo do maior partido da oposição. Tamanha equidistância revela um desejo tão ardente de seduzir essa multidão de eleitores (à volta de dois terços dos votos em sucessivas eleições) que o almirante, se der um passo em falso, cai para dentro do seu próprio abismo, pois situar-se ao centro do centro faz com que não haja precipícios que o possam sobressaltar.
Se era para revelar esta cirúrgica precisão centrista, melhor seria que o tivesse exteriorizado antes, quando foi despontando para o mediatismo ao gerir as vacinas e ao aparecer em público como o disciplinador chefe da armada. Ademais, o almirante labora numa confusão intelectual que deixaria o seu nome na pauta dos reprovados se tivesse ido a exame de “Ideias Políticas”: a correspondência de ideologias entre os dois partidos que........
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