E se o céu fosse vermelho? Reflexão sobre o futuro do SNS
Vivemos tempos em que a inteligência artificial é convocada para tudo: prever tendências, aconselhar decisões, redigir discursos, resumir relatórios. Em plena crise do Serviço Nacional de Saúde, com mais de 1,6 milhões de portugueses sem médico de família e um sistema hospitalar sem capacidade para responder às necessidades reais da população com doença, torna-se tentador recorrer à Inteligência Artificial (IA) como fonte de soluções “inteligentes”, rápidas e aparentemente neutras.
Mas essa tentação encerra um risco profundo: confundir inteligência com reprodutibilidade estatística. Os algoritmos não pensam: compõem. Não interpretam: interpolam. Não visam a transformação: oferecem coerência com o que já foi dito. Quando se pergunta a um modelo de IA generativo que medidas implementar para resolver a crise do SNS, a resposta será, quase sempre, tecnicamente adequada, institucionalmente aceitável e ideologicamente neutra. Soará sensata, equilibrada e até útil. Mas será, quase invariavelmente, uma repetição elegante do que já foi tentado, ou, pior, do que já falhou.
É fundamental perceber que os modelos de IA se baseiam em padrões. O que devolvem não é um juízo de valor, mas uma síntese estatística do........
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