Um bouquet de tulipas atirado ao Letes
Tulipas, mosquitos, elefantes, tempestades, efemerópteros, joaninhas, margaridas, baleias, montanhas, tempestades aparecem, surgem, crescem, repetem bruscamente as suas formas, os seus corpos, as suas sortes, desaparecem. As flores erguem-se, ejaculam, caem. A morte das flores diz-se apoptose – literalmente, queda.
Tão orgulhosa é, distinta de tudo, única, embora capaz de causar profundo dano – a nostalgia. Nem mesmo as águas do Letes – aquela mitológica fonte capaz de apagar, do coração de quem dela bebesse, toda a memória, e de substituí-la pelo consolo e pelo oblívio – têm qualquer poder sobre a nostalgia, como diz Ovídio.
O desejo de voltar a casa, de regressar a uma pessoa, é talvez o sentimento mais violento que a alma humana poderá experimentar. A nostalgia é, acima de tudo, ausência, falta de plenitude, um aperto no estômago, uma constrição no coração. Incómodo físico e profunda tristeza. Eis o que significa a palavra que, parecendo originalmente grega, não o é: na verdade, o termo foi cunhado apenas em 1688 por um estudante de medicina que combinou os termos gregos νόστος (nóstos – regresso), e ἄλγος (álgos – dor).
Curiosamente, a nostalgia pode também ser uma veemente protectora do amor graças ao poder do pensamento, perpétua espera por um abraço ou por um beijo, a que consagramos todos os nossos dias, e para os quais preservamos intactas aquelas partes de nós que aguardam que realmente se consumem. Nunca está verdadeiramente só quem sente saudade de alguém.
Conta-se que, depois de morrer, foi concedido que Protesilau regressasse ao mundo dos vivos para passar um........
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