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Um bouquet de tulipas atirado ao Letes

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01.06.2025

Tulipas, mosquitos, elefantes, tempestades, efemerópteros, joaninhas, margaridas, baleias, montanhas, tempestades aparecem, surgem, crescem, repetem bruscamente as suas formas, os seus corpos, as suas sortes, desaparecem. As flores erguem-se, ejaculam, caem. A morte das flores diz-se apoptose – literalmente, queda.

Tão orgulhosa é, distinta de tudo, única, embora capaz de causar profundo dano – a nostalgia. Nem mesmo as águas do Letes – aquela mitológica fonte capaz de apagar, do coração de quem dela bebesse, toda a memória, e de substituí-la pelo consolo e pelo oblívio – têm qualquer poder sobre a nostalgia, como diz Ovídio.

O desejo de voltar a casa, de regressar a uma pessoa, é talvez o sentimento mais violento que a alma humana poderá experimentar. A nostalgia é, acima de tudo, ausência, falta de plenitude, um aperto no estômago, uma constrição no coração. Incómodo físico e profunda tristeza. Eis o que significa a palavra que, parecendo originalmente grega, não o é: na verdade, o termo foi cunhado apenas em 1688 por um estudante de medicina que combinou os termos gregos νόστος (nóstos – regresso), e ἄλγος (álgos – dor).

Curiosamente, a nostalgia pode também ser uma veemente protectora do amor graças ao poder do pensamento, perpétua espera por um abraço ou por um beijo, a que consagramos todos os nossos dias, e para os quais preservamos intactas aquelas partes de nós que aguardam que realmente se consumem. Nunca está verdadeiramente só quem sente saudade de alguém.

Conta-se que, depois de morrer, foi concedido que Protesilau regressasse ao mundo dos vivos para passar um........

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