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Shakespeare, bergamota e malabaristas

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06.04.2025

O mundo dos livros talvez se assemelhe à floresta do Sonho de uma Noite de Verão. Chesterton considerava-a a obra-prima de Shakespeare – a mais ousada e alegre, a mais perturbadora e profunda. Nela, dois casais de jovens escondem-se na floresta para viverem o seu amor. É uma noite de verão e a floresta está cheia de fadas e elfos que decidem brincar com eles quando adormecem. Um duende, Puck, deposita sobre as suas pálpebras o suco de uma flor mágica, que os faz apaixonarem-se pela primeira pessoa que virem quando acordarem. E o acaso faz com que, nesse preciso momento, fixem a pessoa errada, o que dá lugar a todo o tipo de equívocos. Até a rainha das fadas fica tomada pela loucura, apaixonando-se por um cómico patego que não pensa senão em negócios e dinheiro e usa uma cabeça de burro. No final tudo se resolve e cada um encontra o parceiro que merece, e volta a reinar no mundo a harmonia dos amores correspondidos.

A obra de Shakespeare ensina-nos que não devemos manter o mundo real separado do mundo da fantasia. A realidade precisa da fantasia para se tornar desejável; e a fantasia da realidade para poder comungá-la com outros. A floresta encantada poderia facilmente confundir-se com o mundo dos livros. Quando lemos, escolhemos visitar aquela floresta onde tudo pode acontecer. É nela que nos aguardam sendas misteriosas, os apelos do desejo, as metamorfoses, as sábias mentiras do amor. Aquela vida adormecida que existe dentro de cada um de nós e que apenas o feitiço da literatura, como a flor mágica de Puck, pode despertar. O tempo da leitura é o tempo intenso do kairos, com as suas irrepetíveis epifanias.

Em 1847, Libri, nascido Guglielmo Libri Carucci dalla Sommaja, matemático,........

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