Maio e a tristeza de Marcial
Quando chega, a tristeza faz um barulho semelhante ao daquelas nuvens que de repente cobrem um dia de sol: absolutamente nenhum. Quem ouviu já o som de uma nuvem a passar? Não se dá por nada e, de repente, sem que nos apercebamos, damos por nós na penumbra. Quando estamos tristes, a alma torna-se nublada e escura; é luz que subitamente se extingue, como o filamento de uma lâmpada que, sem qualquer ruído, rebenta.
Nasceu em 39 ou 40 d.C., numa pequena cidade da Tarraconense, Bilbilis, nas margens do Salo. Em 64, partiu para Roma. Por lá permaneceu por trinta e quatro anos. Durante muito tempo, viveu num terceiro piso do Quirinal. Depois – no fim dos seus dias – adquiriu uma pequena casa nas proximidades (perto do templo de Flora). Possuía também, muito antes disso, uma pequena quinta cercada por campos e vinhedos, perto de Nomentum, com telhas pouco fiáveis e que produzia um pouquito de vinho medíocre.
Viajou pouco. Apenas a capital o cativava. Ler poemas, tomar banhos tépidos, frequentar os «grupos» – os círculos, as livrarias, as reuniões de académicos e poetas, os banquetes –, conversar sob os pórticos, responder à salutatio eram os seus entreténs. Nunca se casou.
No ano em que chegou a Roma, viu metade da cidade em chamas. Assistiu à morte de Séneca, à construção da Domus Aurea, à morte de Nero, às revoluções que entregaram o império a Galba, Otão, Vitélio e aos fabianos. A todos saudou.
Ao “pior”, cobriu de elogios. Foi cliente de todos os protectores que pagassem. Elogiou delatores. Gostava daqueles que, nos jogos, fossem mais cruéis. Nem Silius Italicus, nem Regulus, nem Atedius Melior, nem Arruntius Stella o cobriram de ouro. Deles, não obteve nada mais do que a espórtula matinal. Lamentou, chorou a época de Augusto e a memória do seu ministro Mecenas. Virou-se para o imperador. Bajulou........
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