África, 64 anos depois: um olhar
As marcas da minha presença em África são diminutas. Passagens por Marrocos, Egito, África-do-Sul e uma estadia de um mês em Moçambique, não tiveram qualquer repercussão no continente e mais não são do que meras recordações na minha mente.
Contudo, em Moçambique, com residência em Maputo, aventurei-me a solo de mochila às costas pelo interior do país, com destino ao lago Niassa. Pelo caminho, durante cinco dias, mais de 2.000 km (sensivelmente, a distância entre Lisboa e Munique), de machimbombo, camião e chapa, cruzei-me com inúmeros nativos que, de uma forma geral, se mostraram amistosos e prestáveis. Com a pouca informação disponível, produzi na minha mente uma imagem do país e da sua gente. Ao contrário do sentimento adverso pelos sul-africanos brancos, os portugueses eram bem-vindos e bem acolhidos, independentemente da cor da pele. Estávamos em 2008.
Apenas anos mais tarde — mea culpa — interessei-me pelas guerras coloniais/de libertação nos/dos territórios africanos, Angola, Moçambique e Guiné. Nascido uma semana antes do 25 de Abril, mantiveram-me, na escola e na família, na total escuridão face a tão importante processo histórico. Acredito que o mesmo se tenha passado com a maior parte dos nascidos naqueles anos revolucionários. Hoje, sendo professor, vejo com particular desconforto que o assunto não seja abordado, pelo menos convenientemente, na disciplina de História. Porém, nos últimos anos, mercê de uma inevitável passagem de um tempo doloroso para um tempo de esquecimento, e consequente inércia e, de não menosprezar, a chegada à ribalta de visões políticas mais extremadas, desenvolveram-se alguns esforços........
© Observador
