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"As Portas da Perceção" e "Filosofia Perene" de Al

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30.04.2025

Aldous Huxley, como qualquer místico, não está preocupado com a designação. O que lhe interessa é o estado paroxísmico da vivência, a perceção já depurada de toda a concetualização e racionalização – a experiência mística em concreto. Esta apenas se pode dar num estado limite para lá da linguagem e da figuração, para lá do espaço e do tempo. Claro que a uma visão tão peculiar se chama de Eternidade. E, claro, que essa ótica é particular da divindade. Daí o autor advertir que são raros os que conseguem aceder a tal condição ultra, e no livro Filosofia Perene, debruça-se sobre as suas obras e conquistas. Somente os «amorosos, puros de coração e pobres de espírito» lhe conseguem aceder. Assim, o inglês multiplica os nomes desse status especialíssimo: para efeitos de simplicidade e entendimento denominaremos tal modo de «Visão Beatífica» da «Divindade».

Termos vagos e imprecisos, dirão; no entanto, em que outra forma e roupagem se poderá descrever semelhante estranheza; em que outra modalidade simbólica se poderiam conjurar estes estados de alteridade? Que não haja dúvida: aquele que acolhe semelhante experiência jamais a consegue transmitir, a não ser numa linguagem tosca e sem brilho, desapropriada, muito aquém do vivido. Como se estivesse condenado a gaguejar e a recorrer a onomatopeias, a habitar uma Babel humanamente intraduzível. Intratável. Nas sociedades civilizadas, em que a indústria, a tecnologia e o mercado proliferam e constituem o dia-a-dia do sujeito, o eu multiplica-se em horários apertados e afazeres avassaladores nada propícios à reflexão e à meditação. A busca a que cada um é interpelado pede outro ritmo e outro ambiente, implora um silêncio, sempre violado. Nas sociedades ditas primitivas, antigas ou coevas, ainda se vislumbram habitats propícios ao encontro com o sobrenatural. O contacto direto com a natureza e com o nosso espírito encontra condições mais benéficas para uma desmultiplicação da individualidade. Contudo, há etapas que não podem ser queimadas.

O primeiro patamar a atingir é o «Não-eu», estado já desprovido da nossa idiossincrasia castradora, em que o indivíduo se predispõe a conectar-se com o Universo e com o Universal. Nesta especial condição, cada ser humano, já não projetando o seu eu nas coisas do mundo, isto é, não objetivando as coisas como meio, mas como um fim em si mesmo (diria Kant), vê na singularidade a pureza devolvida a si, ao seu eu já despojado de qualquer alicerce artificial. Ou seja, vemos as coisas........

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