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Ganhemos noção. Respeitemos o Papa

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01.03.2025

Começo a escrever este texto num momento em que a saúde do Papa tem avanços positivos. No entanto, em sentido inverso, caminha a reflexão sobre estes dias. A quem olha, a quem vê e a quem ouve, parece que os juízos já estão formulados antes mesmo que a realidade aconteça. Saltando de emergência em emergência, temos dificuldade em habitar a tensão, a complexidade e a ambiguidade. E, por fim, cai-se no voyeurismo.

Por um lado, as coisas têm o seu tempo. A Quaresma não é a Páscoa. A gravidez não é o parto. Um Papa hospitalizado não é um Conclave. E a falta de respeito pelo tempo das coisas é um ato suicida, até para a própria imprensa. Por outro, o jornalismo que, tantas vezes, anseia por liberdade, tem hoje dificuldade em respeitar a liberdade do tempo, e quem diz a liberdade, diz a objetividade. Além disso, um fator agrava este contexto: a distância que nos separa de 2005, o ano que marca o último internamento prolongado de um Papa, faz-nos perder o vocabulário para entender com clareza o que está a acontecer. Posso ser uma voz de dentro, o que traz sempre alguma desconfiança, mas, embora tudo o que gira em torno do papado se tenha tornado num acontecimento mediático, isto não são as eleições americanas ou o campeonato de futebol.

Ainda na passada sexta-feira, houve um exemplo desta alucinação. Quando o responsável da equipa médica que cuida do Papa, Sergio Alfieri, deu uma conferência de imprensa, uma jornalista perguntou por que razão não havia fotografias do Papa hospitalizado. Caracterizando isso como uma “anomalia”. A resposta, num italiano super irónico, depois de o médico respirar fundo e cruzar os braços, devia levar-nos a um exame de........

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