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O apagão político

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30.04.2025

Às horas a que escrevo, os povos peninsulares correm para os supermercados às escuras em busca de água, enlatados e, naturalmente, o providencial papel higiénico. As televisões, intermitentes em alguns casos, explicam que não há razão para alarmes, nem para mudanças de rotina, isto enquanto publicam notícias que dão conta de que não se imagina quando será restabelecido o fornecimento de energia elétrica, referindo o jornalista locutor que, de “acordo com fontes da REN”, tal restabelecimento poderá tardar até uma semana — coisa pouca, portanto.

Das autoridades, zero. Um telefonema do ministro Amaro fala em lidar com serviços de informação, urgências hospitalares asseguradas e garantias de “ordem pública” e, mais tarde, o Primeiro-Ministro, casualmente, à porta do Conselho de Ministros, de passagem, explica que o apagão “é uma inconveniência”, que a culpa não é portuguesa, que está informado de tudo, mas que vai até à REN para se informar melhor, que espera que a coisa se resolva ainda no dia de hoje, mas que não garante. Quando questionado sobre se há algum ataque cibernético diz que nada o indica; já sobre o tal prazo de uma semana que jornalistas indicam como sendo informação proveniente da REN diz que acha que não, mas que os jornalistas saberão melhor que ele. E lá foi ele.

Não estou a exagerar, foi mesmo assim que se passou para a reportagem do próximo ponto de informação, um supermercado atulhado de gente apreensiva a arrebatar garrafas de água e, depois, para uma senhora a reclamar dos estores eléctricos que, “porque estava muito sol”, tinha corrido para baixo, razão pela qual agora tinha a casa às escuras — sem luz e sem sol. Neste ponto, pelas 16h30, passam praticamente cinco horas desde que a “ocorrência” começou e, salvo a simpática declaração de circunstância do Primeiro-Ministro, de oficial nada se sabe, nada se espera também, quando a energia voltar, voltará, vai ficar, imagina-se, “tudo bem”.

Da minha parte, de fora, na tranquilidade dos montes, com electricidade própria, internet por satélite Starlink e TV por internet, apenas me apercebi da coisa por um SMS que me interrompeu a tranquilidade do Campeonato do Mundo de Snooker alertando para a situação. Então, ligando-me ao que restava do mundo televisivo português, tudo me pareceu deveras extraordinário. A circunstância, desde logo, de uma natureza a qual, pelo menos eu, nunca tinha assistido, mas também todo um comportamento jornalístico e político que, salvo melhor expressão, me aparece como caricato, senão trágico-cómico. Recapitulando: dá-se um evento inédito, o país fica às escuras, pessoas presas em elevadores, espaços subterrâneos e metropolitanos apinhados de gente encurralada, os semáforos não funcionam, canais de TV em baixo, aeroportos parados e evacuados, transportes públicos completamente destabilizados, as comunicações caídas, tudo isto sem que se perceba porquê, e em não se sabendo o porquê, obviamente, não se pode imaginar quando a coisa se resolverá, salvo num salto de fé de que “vai ficar tudo bem”. Nos entretantos, durante horas sem quaisquer declarações oficiais — salvo que estão a estudar o assunto —, desvaloriza-se a coisa como um inconveniente passageiro que a seu tempo será resolvido.

A falta de informação é sempre o principal motivo para........

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