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Filhos da fruta

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12.02.2025

Ao caso deram o peculiar nome de “Tutti-Frutti”, o que me leva sempre a acreditar que deve haver poucos empregos mais divertidos do que o do cidadão que baptiza as operações policiais que nos enchem o espaço mediático, e é, todo ele, mais relevante do ponto de vista político do que criminal.

O já velho e sempre cínico mantra de António Costa, «à justiça o que é da justiça, à política o que é da política», paira constantemente sobre todos estes casos judiciais e é, na verdade, revelador de um estado de coisas quase unanimemente considerado insuportável. A política, com recurso ao expediente de tal afirmação, depois de alguns anos a tentar a tese de cabala, acabou a ver-se livre dos problemas de uma forma bastante simples, em que qualquer problema de natureza moral ou ética passaria automaticamente para a esfera dos tribunais. A política não quis fazer o trabalho de se auto vigiar e judicializou a ética. O Ministério Público aceitou o repto. E, considerados os chamados «tempos da justiça», os casos morriam nos noticiários e terminavam, naturalmente, com absolvições ou condenações. No primeiro caso, não se verificando acto digno de censura criminal, o Ministério Público e a imprensa tinham feito um auto-de-fé público a um desgraçado, independentemente de a conduta em causa ter sido de ética, duvidosa ou censurável. Se se verificasse a condenação, o partido respectivo via-se definitivamente livre de um problema, que passava a ser de natureza meramente individual do agente criminoso, e não fruto, muitas vezes, de um contexto partidário e institucional que favorecia a prática em si.

Em boa parte das opiniões mediáticas, sempre ávidas de........

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