O zig de Rocha e o zag de Ventura
Rui Rocha e André Ventura partem para estas eleições numa situação idêntica: o antecipar do calendário político fez com que tivessem de atirar para o caixote de lixo as respetivas estratégias eleitorais e fingir que não disseram nada do que efetivamente disseram ao longo dos últimos onze meses. Se isso não é exatamente um problema para André Ventura, dono e senhor de um jogo de cintura assinalável, com Rui Rocha a coisa torna-se mais complicada — como se tem visto, aliás, pelas sofríveis prestações nos debates televisivos.
Não é preciso fazer exatamente arqueologia política. Em agosto de 2024, Rui Rocha dizia ao país que a AD era como a toranja: “Laranja por fora, rosa por dentro”. Em outubro do mesmo ano, a IL anunciava chumbo ao Orçamento do Estado alegando que o documento era mau e poderia ter sido apresentado pelo PS. “Preferimos clarificação política e preferimos eleições a um mau Orçamento”, desafiava um confiante Rui Rocha.
Em fevereiro deste ano, os liberais juntavam-se em Congresso para endeusar Javier Miliei, declarar morte ao wokismo e um combate sem tréguas a Luís Montenegro. “Acabou a brincadeira. Antes só do que mal acompanhado”, gritava Rocha a plenos pulmões. A radicalização era assumida. Em março, já com o espetro da crise política bem presente, o mesmo Rui Rocha dizia que Montenegro se aproximava do “fim de linha” e assumia abertamente a hipótese de ir a votos. “Não estamos por uma estabilidade a todo o preço, que contamina as instituições.”
As coisas foram mudando um bocadinho assim que se percebeu que o país podia de facto enfrentar eleições. A mesma IL que preferia ir a votos a ter um “mau Orçamento” decidiu votar........
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