Aprendemos mesmo?
Se houve coisa que se repetiu depois da noite eleitoral foi o de que havia um país — o da bolha mediática — que estava divorciado de um outro país — o real —, e que o primeiro tinha de fazer um esforço de aproximação para perceber o segundo e saber interpretar os resultados das eleições legislativas, encontrar explicações para o sucesso retumbante de André Ventura, claro, mas também para vitória inequívoca de Luís Montenegro (apesar da bolha) e da hecatombe de Pedro Nuno Santos e de praticamente toda a esquerda (mesmo com o encorajamento da bolha).
Sensivelmente duas semanas depois, o país da bolha diverte-se muito com o facto de Henrique Gouveia e Melo dizer umas vacuidades que não ofendem ninguém, regozija-se com o facto de não saber ler um teleponto, e atira-se para o chão pelo facto de contar com o apoio de Rui Rio, um candidato copiosamente derrotado por António Costa, como se tudo isto fosse sinal de incúria, impreparação e, no caso da escolha de Rui Rio como mandatário nacional, manifesta incompetência.
Esquece-se de três coisas: Gouveia e Melo é muito mais forte por aquilo que representa do que por aquilo que diz; a grande maioria das pessoas está-se nas tintas para o aspeto cénico da política; e sim, Rui Rio perdeu eleições contra António Costa; mas ganhou contra Pedro Santana Lopes, Luís Montenegro e Paulo Rangel, conquistou a Câmara do Porto de forma surpreendente em 2001 e governou a cidade durante 12........
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