A última jogada do mestre Marcelo
A história não será meiga com Marcelo Rebelo de Sousa. No crepúsculo do seu mandato, é já justo dizer que o atual Presidente da República desperdiçou uma oportunidade única de figurar entre os gigantes da nossa democracia. Popular, empático, brilhante, e, mesmo assim, tantas vezes refém de si próprio. Marcelo vai despedir-se do Palácio de Belém como a personificação da fábula do escorpião e da rã, sendo que conseguiu, em muitos momentos, ser simultaneamente o escorpião e a rã. E acabou vítima da sua própria natureza.
Marcelo cometeu muitos erros nos últimos oito anos. Demasiados. O maior pecado foi não ter utilizado a sua excecional influência para exigir mais para e pelo país. No entanto, que o último ato de Marcelo Rebelo de Sousa fique marcado pela comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas é de uma grande injustiça. É verdade que foi imprudente quando deu sequência ao pedido do filho, politicamente desastroso quando o caso rebentou e até incompreensivelmente cruel quando cortou publicamente com o “doutor Nuno Rebelo de Sousa”. Mas, e apesar de todas as falhas, Marcelo não merece ser resumido a este episódio.
Não existe, até ver, um único elemento de prova que sugira que ganhou algum tipo de vantagem com a ‘cunha’ do filho ou que tenha tido sequer um papel ativo no desenrolar do processo. Tudo indica que agiu apenas de boa-fé e com a melhor das intenções. Independentemente de tudo, o próprio terá........
© Observador
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