É preciso "avançar rápido e partir coisas"
Não sei se se lembram daquela vez em que, em 1993, um político do PS organizou uma corrida entre um Ferrari e um burro. O objetivo do socialista, que era candidato à Câmara de Loures e por acaso se chamava António Costa, era mostrar que se tinha tornado impossível entrar em Lisboa pela calçada de Carriche. O truque resultou: o burro cinzento conseguiu chegar ao destino cinco minutos antes do Ferrari. O que António Costa pretendia fazer era uma graça de campanha; mas o que na realidade conseguiu, de forma involuntária, foi deixar para o futuro um símbolo do estado a que isto chegou, para usar a expressão célebre. É que, lamentavelmente, nós somos, ao mesmo tempo, o Ferrari e o burro. Somos o Ferrari porque temos uma dolorosa dificuldade em sair do mesmo sítio; e somos o burro, em sentido próprio, porque, mesmo quando chegamos a algum sítio, somos incapazes de perceber que na realidade não fomos rápidos — fomos apenas marginalmente menos lentos do que aqueles que vêm atrás de nós.
Era conveniente que o novo governo, que tomará posse muito em breve, perceba que a velocidade deixou de ser uma qualidade semelhante a qualquer outra e passou a ser a principal virtude de um político. Não basta ter razão ou ter vontade — é preciso ser rápido. Um primeiro-ministro que queira sobreviver à crescente impaciência de um eleitorado........
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