“Está a querer cacimbar”
1 O verão. Ah o verão. Tão mais que uma estação do ano… Anos após ano, a mesma espera, feita da mesma intacta e inteira expectativa. Como quem espera “por uma outra vida” dizia Ruy Belo e todos anos eu preciso de o lembrar aqui pela minha absoluta, imutável, gloriosa devoção ao verão.E porque desde sempre “pertenço” muito intimamente á poesia de Ruy Belo. Duas devoções maiores. O poeta também amava este Oeste onde costumo escrevinhar estes e outros desabafos inocentes, amando as suas teimosas neblinas, o cheiro a maresia, a espuma enraivecida das ondas, as praias caprichosas. Como a Consolação que nos pode consolar, ou a de S. Bernardino, que protege dos perigos. Ruy Belo amava este Oeste e os seus dias tão próprios. Conheciam-se. Celebravam-se mutuamente. Aqueles dias onde se nos cruzamos com alguém “daqui”, a quem podemos ouvir dizer com desarmante certeza que “hoje está a querer cacimbar”. O Oeste é isto: os dias a quererem resolutamente “cacimbar”, destoando com galhardia de outros lugares onde há sol, mar, calor, dias longos, noites doces. Coisas do verão, numa palavra. Mas aqui, aqui “cacimba-se”.
Ruy Belo não se importava . O poeta necessitava de fazer sua esta geografia singular mesmo que por vezes, muitas vezes, ela tapasse com o seu véu, o esplendor luminoso da “única estação”.
Acompanho o poeta no seu entendimento do que pode ser........
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