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Momentos de crise

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03.05.2025

Sobre a qualidade do executivo em momentos de crise. Na sequência do apagão ibérico de segunda-feira, vários comentadores e cidadãos têm-se pronunciado sobre se a qualidade e mérito da reacção do executivo no momento de emergência e incerteza que vivemos. Com algumas excepções, noto um padrão inconfundível: comentadores e cidadãos de direita têm afirmado que o executivo fez o melhor que pôde numa situação inédita, enquanto comentadores e cidadãos de esquerda afirmam que o governo não esteve à altura. Coincidência? Claro que não. Como não me parece que diferentes princípios normativos e filosóficos estejam a espelhar diferenças de opinião sobre a resposta política ao apagão (por exemplo, se um governo deve privilegiar a ordem ou a liberdade, as empresas ou os pensionistas no meio de um apagão), a explicação mais razoável é aquilo que a ciência política e a psicologia social chamam de partisan motivated reasoning, ou pensamento motivado por identidades ou preferências partidárias. O partisan motivated reasoning ocorre quando os nossos processos cognitivos e raciocínio favorecem, à partida, uma conclusão que confirme as nossas posições e preferências e, portanto, interpretamos os acontecimentos e a informação que nos chega da forma mais favorável ao nosso lado ou à nossa conclusão preferida.

É fácil imaginarmos um exemplo caricatural, em que as mesmas acções nas mesmas circunstâncias, mas feitas por partidos diferentes, levam as pessoas a avaliações dos políticos completamente diferentes. Mas esse exemplo caricatural é demasiado simplista e esconde outras formas menos óbvias mas também insidiosas. Por exemplo, quando olhamos para dados e fragmentos de informação diferentes que colocam certo partido ou político em melhor ou pior luz. Note-se que nesta forma (percepção selectiva) todos estamos a consumir e salientar........

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