Esquerdas não prezam nem a sociedade nem a ética?
Nos últimos dias, a comunicação social destacou algumas importantes declarações de personalidades partidárias «de esquerda», que vieram confirmar a ideia de que «a esquerda» não defende nenhuma ética nem nenhuma cultura social, mas apenas o Estado, ou então a chamada «legalidade republicana», isto é, as leis aprovadas pela res publica.
Passo a exemplificar com dois casos.
Primeiro caso. Um ex-assessor do Bloco de Esquerda, que tem em Alfama duas casas que usa para alojamento local e «foi um dos promotores da proposta de referendo contra o alojamento local», declarou ao Observador que «não considera a situação incoerente», porque — disse claramente — «não vou ser eu que vou resolver o problema de habitação desta cidade. […] não é cada um que, individualmente, tem de resolver um problema coletivo». «Bernardino Aranda acrescentou mesmo: “Não tenho de ser eu a entregar as casas que tenho a quem não tem habitação. Ou fazer doações em dinheiro a quem recebe salários baixos. Os problemas resolvem-se por transformações políticas».
Está aqui retratada a típica ideologia da esquerda, que acha que a sociedade civil, pela livre e espontânea açcão individual e associada dos seus membros, naturalmente inspirada pelas suas convicções morais e religiosas de consciência — porque a pessoa humana tem consciência —, não é responsável, nem deve ser responsabilizada, pela resolução dos problemas de justiça social e de fraternidade humana.
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Portanto, tudo deve ser entregue e exigido ao poder político, que, não por acaso, deve ser exercido pela esquerda, e não pela direita. Como se proclamou, sem disfarces, no maio de 68: «Tudo é político». Ora, se tudo é político, então a política é tudo, e o Estado é totalitário.
Assim se compreende melhor que a esquerda defenda os monopólios de Estado, e seja contra a livre iniciativa........
© Observador
