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Quando o PS ganha, não há vítimas do TikTok

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28.05.2025

1 Já passou mais de uma semana mas o negacionismo continua. Se é normal que o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português (PCP) se comportem como velhas avestruzes ortodoxas, se é humano que o PS continue em choque e que Rui Tavares tente liderar o vazio quando está muito longe de ter votos para tal — já tenho mais dificuldades em compreender que muitos colegas jornalistas e comentadores persistam em não compreender que o país político mudou e alguns continuem a tentar alcançar a utopia de que o Chega tem de ser isolado.

Ponto prévio. Portugal é uma democracia representativa, os cidadãos votam num partido para os representar e se esse partido reunir votos suficientes para tal, esses mesmos cidadãos têm de estar devidamente representados nos órgãos do Estado. O Chega existe e 1.345.689 cidadãos — o número vai aumentar com a conclusão dessa contagem dos votos da emigração nesta quarta-feira — votaram no partido de André Ventura. Se se confirmar que o Chega é a segunda força política, então terá de estar representado nos órgãos do Estado como determinam as regras da nossa democracia representativa.

Significa isto que terá direito à primeira vice-presidência na Assembleia da República, à liderança da Comissão Parlamentar das Finanças e do Orçamento entre outras matérias parlamentares. Também terá de estar representado em órgãos como os conselhos superiores de segurança interna, de defesa, da magistratura judicial, do Ministério Público e também da fiscalização das secretas.

Existem perigos e ameaças? Sim, existem. Mas o escrutínio e a eventual responsabilização por qualquer falha também será uma realidade, se for caso disso.

Mas não podemos fugir à lógica da nossa democracia representativa — que é independente do partido que esteja em causa, como foi quando o PCP e o Bloco de Esquerda indicaram juízes para o Tribunal Constitucional e esteve representado em vários dos órgão acima referidas. São partidos muitos diferentes do Chega? Lamento mas, que diz respeito ao extremismo e radicalismo de posições, não são.

Regressando à lógica do funcionamento da democracia representativa. Tal lógica é simples: os eleitores elegem cidadãos que os representam no Parlamento; se determinado partido tiver votos suficientes ser a segunda força partidária, então os cidadãos que votaram nesse partido terão de estar representados nos órgãos do Estado.

Pode parecer exagero da minha parte mas é melhor recordar o “abc” da democracia porque muitos persistem na utopia de que é possível isolar ou colocar o cordão sanitário a 1.345.689 cidadãos. Se isso acontecer, podemos continuar a ser uma democracia, mas deixaremos de ser uma democracia representativa. O que não deixaria de ser uma ironia, tendo em conta que os defensores das linhas vermelhas justificam as mesmas com o facto de o Chega representar uma ameaça à mudança de regime.

2 A esquerda e a extrema-esquerda representada no espaço público e nas redes sociais continuam igualmente a tentar deslegitimar o voto dessas 1.345.689 pessoas, tentando menosprezar cada um deles. Vamos ser claros: os 1.345.689 eleitores que votaram no Chega não são racistas ou xenófobos, não são fascistas ou saudosistas do Estado Novo, não são ignorantes ou analfabetos. Não confundamos a árvore com a........

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