Abortados da nossa dormência…
Muito do drama humano nasce do contraste entre a sua grandeza e a indigência do seu reconhecimento. A humanidade que nos habita nem sempre se torna luminescente para aqueles que a querem ofender. Aliás, a história tem sido pródiga em narrativas de redução do humano para sobre ele exercer toda a violência. Assim com os escravos, assim com os infiéis, assim com os doentes, assim com os deficientes, assim com os outros… Com todos os outros.
Hoje, o outro habita no mais íntimo de alguém e chama-se ‘filho’. Mas não querem dar-lhe este nome, pois dá-lo importunaria. É, por isso, a ‘coisa que a mulher tem dentro de si’, é ‘o montão de células’ ainda não humanas, é tudo, mas sem ser o que é.
Porque, se o fosse, outra teria de ser a atitude perante ele. E isso incomoda.
Tem, por isso, de continuar a ser uma coisa. Porque uma coisa........
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