Temos medo de perder
Será que ao longo da vida são mais as coisas que perdemos do que aquelas que encontramos? É possível que seja uma questão de perspetiva. Todos os dias perdemos coisas que, vistas assim, desconjuntadas e perdidas, não parecem fazer-nos assim tanta falta: uns fios de cabelos que caem, umas unhas que são cortadas, umas células que morrem. Mas a consciência da perda não cresce em nós assim num ápice, não acordamos num dia com medo de perder tudo. É uma coisa gradual, uma cola que se vai instalando em nós, que se agarra lentamente e que nos vai dando a consciência do perder. Custa-nos perder o que não podemos voltar a encontrar, custa-nos perder o insubstituível. Por isso é que a narrativa de sermos insubstituíveis como pessoas é agridoce. Se por um lado queremos reforçar a raridade das nossas existências, por outro não queremos que o controlo nos fuja.
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