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Estamos por nossa conta

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22.02.2025

A conclusão a tirar da cimeira russo-americana de Riade é esta: na Europa, estamos por nossa conta. Podíamos dramatizar e, como de Inês, dizer que “a NATO jaz morta”. Não convém dizê-lo, por muito que a Administração Trump tenha deixado a NATO como um moribundo na marquesa. Os Estados Unidos da América não são nosso inimigo. Numa situação tão perigosa como aquela em que estamos, não podemos distrair-nos e desviar a atenção de onde vem a agressão sobre a Ucrânia e a ameaça sobre todos nós: a Federação Russa.

Em termos de segurança, estamos muito pior do que há uma semana. Trump quebrou a coesão da NATO e pôs em crise o artigo 5.º. Na eventualidade de uma agressão russa, sentíamo-nos protegidos – por isso, aderiram Suécia e Finlândia. A certeza dessa segurança foi destruída.

O fundamental que temos a fazer – e depressa – é assumirmos a responsabilidade plena pela nossa defesa e segurança, agarrarmos efectivamente as suas rédeas e definirmos as prioridades de organização, de investimento e de acção. O muito urgente é reavaliar os nossos meios e dispositivos, reajustar a sua estrutura e desenvolvimento, transmitir aos cidadãos europeus a garantia de que estamos bem e seguros.

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Agora é connosco. Só connosco. Somente essa consciência nos protegerá e evitará problemas maiores. Há muito tempo que este momento estava anunciado, mas líderes fracos e imprevidentes continuaram a arrastar a dependência do manto protector americano. Desde a queda do Muro de Berlim e, depois, da União Soviética, eram crescentes os sinais de redução do esforço americano na defesa europeia e, portanto, de que os europeus tinham de assumir esses encargos e responsabilidades. Quando estive no Parlamento Europeu, nos primeiros anos desde século, esta questão já lá andava. A maioria olhava-a com displicência. No primeiro mandato de Trump, esta mesma questão foi avançada, mas a Europa persistiu em arrastar os pés. Ainda agora, 30 anos depois, continuamos na dança dos 2% do PIB, cumprir ou não cumprir, como se a nossa defesa fosse assunto para impressionar americanos e não a nossa própria necessidade, por nossa própria vontade, nossa própria responsabilidade, nossa própria política. Se os nossos líderes tivessem respondido mais cedo e capazmente a esta chamada, a inquietação não nos visitaria nesta altura.

Perante a política agressora – e não só agressiva – de Putin, só a forte certeza dos europeus quanto à segurança europeia e o seu comando articulado e efectivo permitir-nos-á definir e executar uma política face ao Kremlin que proteja a integridade territorial e a paz na Europa. Perante a deserção de Trump, a Europa tem de estar à altura de assumir as suas responsabilidades e impedir o vazio. Se, para além do tête-à-tête Putin/Trump, houver conversações a sério com a Rússia sobre a segurança no continente europeu e, nomeadamente, sobre a guerra na Ucrânia, os europeus terão obviamente que participar. Mas deverão ir por si, não pela mão de Trump. Trump pôs-nos fora da conversa e pôs-se fora da nossa segurança. É assim que a questão tem de seguir.

Putin já percebeu que Trump é fraco, não precisa de constatar que a Europa é ainda mais fraca. Em vez daquele homem vigoroso, que aparenta, Trump mostrou-se mais um caso flagrante de síndroma de Estocolmo: fascinado pelo seu captor. Pode ser influência do cinema e do fascínio mágico do cenário do Kremlin que Trump se imaginará, interiormente, um par de Ivã, Pedro, Alexandre ou Nicolai, prontificando-se, assim, a reconhecer a Vladimir o direito de invadir vizinhos e guardar para si as conquistas. Este é o resumo destes últimos dias.

Nas primeiras conversas em Riade, entre Sergei Lavrov e Marco Rubio, há uma grande lacuna: qual é o estatuto que Federação Russa e Estados Unidos reservam para a Coreia do Norte? Não pode ser ignorada nem a aliança entre Putin e Kim Jong-un, nem a presença no terreno, ao serviço dessa aliança, de significativas tropas norte-coreanas a combater a Ucrânia. Da última vez que nos inteirámos do assunto, a Coreia do Norte era um perigoso inimigo dos EUA. É........

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