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Trumpofobia e trumpofilia

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06.03.2025

De Marcelo diz-se que é muito inteligente, culto, habilidoso e querido do povo que lisonjeia, ao qual passa a mão pelo lombo patrioteiro e amante de musiquetas e telenovelas. Tudo verdade. E todavia, com excepção de jornalistas que vivem das rodilhices da política, e dos políticos que são obrigados a tomar em linha de conta o que Sua Excelência diz, ninguém de consequência o leva a sério porque dali não vem nem nunca veio um pensamento com alguma profundidade, uma ideia com alguma originalidade e um desígnio que não seja a vulgata do europeísmo e das ideias que andam no ar da moda do extremo-centro.

De Trump diz-se que é um grosseirão, ignorante e bronco, com educação de carroceiro, gostos de empreiteiro e deslumbramento de pato-bravo. Tudo verdade.

O primeiro não fez nem uma ruga no lago da história do país democrático, e ainda menos no mar da história tout court. O segundo agita as águas do mundo, pôs a Europa em convulsão, quer pôr Israel a dar um já chega! no terrorismo palestiniano, acabar prestes com a guerra da Ucrânia, fazer as reformas do Estado que a direita impotente, que é quase toda, anda há décadas a dizer que vai fazer, e mandar para os cafundós da irrelevância a cultura woke, substituindo-a pelo senso e a tradição, e com tudo isso restaurar a grandeza dos EUA, que acha, e está, em risco.

Um abismo separa os dois homens, tanto neles próprios quanto na importância relativa dos respectivos países, quanto nas circunstâncias. De comum têm apenas o terem sido limpamente eleitos.

Quer dizer que o eleitorado português é lúcido porque elege um intelectual capaz de fazer nada e o americano estúpido porque elege um bully aldrabão com vontade de fazer muito?

Não. Foram ambos eleitos porque respondem a necessidades do eleitorado. E o que isto significa é que o que eles são interessa pouco e o que eles defendem muito.

Donde, deixem lá em sossego o perfil intelectual e........

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