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As pessoas estão fartas

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22.05.2025

Tenho lido e ouvido muitas explicações para a ascensão do Chega: a forma como a comunicação social lidou com o fenómeno, o favorecimento nas redes sociais, o crescimento do racismo, o Tribunal Constitucional não o ter ilegalizado, o povo ser pouco esclarecido — enfim, a panóplia habitual. A mim, parece-me que a razão é bastante mais simples: as pessoas estão fartas.

Estão fartas de um país onde nada parece funcionar, onde tudo está mais caro e os salários estão estagnados. De um país onde uma família com dois ordenados mal consegue pagar as contas.

Nas últimas duas décadas, houve uma evidente degradação da qualidade de vida em Portugal. A saúde pública é hoje uma lotaria, sustentada apenas pelo sacrifício de milhares de profissionais que, apesar das péssimas condições, vão mantendo o SNS a funcionar. Ainda assim, qualquer pessoa que não tenha dinheiro para um bom seguro (ou seja, a maioria da população) sabe que, se tiver um problema de saúde — ainda que relativamente ligeiro —, estará sujeita a um calvário burocrático antes de o conseguir resolver. Desde a falta de profissionais até à escassez de material, o SNS hoje não consegue responder, em tempo útil, às necessidades mais básicas da população. E não estou a falar de serviços que são uma miragem, como o dentista ou o psicólogo. Refiro-me a situações urgentes, como partos ou cirurgias. Enquanto escrevo este artigo, aguardo notícias de um primo cuja operação a uma fratura foi adiada no maior hospital do país por falta de material esterilizado.

A........

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