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Deve a Europa tentar reconciliar-se com Trump? Não

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04.03.2025

Não sei se todos os líderes europeus viram as mesmas imagens que eu vi – que o mundo inteiro viu. Não sei se escutaram as palavras – todas as palavras. Não sei se perceberam as linhas de argumentação – não sei mesmo.

Até à passada sexta-feira podíamos ter dúvidas. Trump tivera duas reuniões aparentemente frutíferas com Emmanuel Macron e Keith Starmer. Os Estados Unidos e a Ucrânia estavam à beira de assinar um acordo para a exploração de terras raras que poderia dar algumas garantias de segurança a Kiev. Não era impossível alimentar a ilusão que o jogo da Casa Branca era mais complexo e se enquadrava na disputa pela hegemonia mundial com a China (eu próprio alimentei essa ilusão). No limite até se podia falar do regresso da realpolitik, isto é, de um realismo que não ignorasse a situação difícil nas frentes de batalha da Ucrânia.

Mas isso era até à passada sexta-feira.

Quem ouviu com atenção aquilo que Donald Trump e JD Vance disseram ao presidente Zelensky não pode ter ficado com dúvidas – quando muito pode alimentar dúvidas sobre se foi um cilada orquestrada ou um acidente a propósito, mas isso é secundário. O essencial é que naquela troca de palavras várias coisas ficaram evidentes.

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A primeira é que nas decisões e nas palavras de Trump vale sempre mais o seu ego e o seu ressentimento do que qualquer cálculo racional sobre política externa, deveres para com países aliados ou noção de qual o papel dos Estados Unidos no mundo (pelo menos o papel que desempenharam nos últimos 100 anos). Para Trump revelou-se mais importante Zelensky não o ter ajudado em 2020 na campanha contra Joe Biden por causa dos negócios do filho, do que qualquer consideração sobre o papel protagonizado pelo presidente ucraniano na resistência a uma potência hostil (a Rússia) e a um ditador assumido (Vladimir Putin).

A segunda é que Trump quer mesmo uma cessação das hostilidades custe o que custar, mesmo que isso represente uma grosseira violação das regras de convivência internacionais e uma traição aos seus aliados. Na óptica de Trump é mesmo com Putin que ele tem de falar, não........

© Observador