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Paz à Putin: como não fazer um cessar-fogo

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19.05.2025

Comecemos pelo princípio, ou por mais uma ilusão diplomática com prazo de validade. Em 11 de março de 2025, a Ucrânia aceitou, com um entusiasmo forçado pela administração Trump, uma proposta para um cessar-fogo de 30 dias. Era, no papel, um primeiro passo para a paz. Na prática, foi uma daquelas encenações a que até os diplomatas mais ingénuos assistem com o copo meio cheio… de cepticismo. Marco Rubio, de serviço à política externa norte-americana, apressou-se a dizer que “a bola estava no campo russo“. Moscovo, como seria de esperar, não jogou com fair play, mas com a frieza calculista de quem já decidiu o resultado do jogo.

Putin, fiel à sua cartilha estratégica, acenou com simpatia à ideia de cessar-fogo, mas logo exigiu condições que transformariam a trégua em capitulação. Ao contrário do que muitos acreditaram e ainda acreditam, o Kremlin não está muito interessado no fim de guerra, a não ser nos seus próprios termos.

Mais de três meses depois, enquanto os delegados de segunda categoria se reuniam em Istambul e as câmaras registavam as amenidades protocolares, as forças russas continuam a tentar avançar na Ucrânia e a bombardear cidades. A reunião em si mesma foi uma mera tertúlia para encanar a perna à rã.

Putin sabe perfeitamente que a janela estratégica continua escancarada. O Ocidente, entre um protesto climático e um simpósio sobre diversidade, mostra sinais de fadiga estratégica. A OTAN, por sua vez, encontra-se em estado de semi-hipnose, debatendo com afinco se ainda acredita no conceito de dissuasão. Do outro lado, a Rússia não perde tempo com retórica: mergulhou de cabeça numa economia de guerra, alimentada com a assistência entusiástica dos seus companheiros de trincheira, Irão, China e Coreia do Norte. A sua indústria militar não descansa, enquanto no Ocidente se continuam a marcar reuniões para decidir o que já devia ter sido decidido antes de a guerra começar.

E como se não bastasse, o regime de Putin tornou-se estruturalmente adicto ao conflito. A economia russa gira agora em torno da engrenagem militar, incrementando a produção de armamento e desviando recursos públicos para manter as máquinas a trabalhar tendo em vista a criação de mais unidades militares. Os oligarcas, outrora........

© Observador