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Conclave, Doutrina e Leão XIV

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11.05.2025

Numa altura em que, mais que nunca, o mundo observa a realidade pelas lentes laicas da ideologia, parece importante referir, ou lembrar, algumas questões quanto a este momento tão sagrado e especial, porém, infelizmente, tão deturpado e negligenciado como foi o Conclave de 2025.

As deturpações aludidas não se cingem a meras ignorâncias doutrinais ou históricas, mas sim à própria vontade de se ter vivido o Conclave como quem vive uma eleição americana. Neste sentido, uns desejaram ver uma Igreja que transponha os “ensinamentos” do “progresso” – por viverem o delírio de que as pessoas do século XXI são, por alguma razão, mais inteligentes ou morais do que os antigos pelo simples facto de terem vindo mais tarde… –, não se interessando pelo que a Igreja verdadeiramente sempre ensinou e, pior, animalizando os que procuram viver a ortodoxia da fé, como se fossem bárbaros que nunca entenderam a mensagem de Cristo.

Deste ponto de vista – sacrílego, diga-se… –, a Igreja fundada por Cristo para ser a Guardiã da Fé, deixa de estar ancorada nos valores objetivos e suprapolíticos de Deus para passar a traduzir a vontade do mundo – o mesmo mundo que Cristo nos chama a renunciar. De facto, grande parte dos crentes e não crentes ansiou por uma batalha entre “progressismo” e “conservadorismo” no seio do Conclave, cometendo o grave erro de não (querer) perceber que à Igreja só serve a Ortodoxia – o caminho reto dos ensinamentos deixados pelo Fundador da Igreja Católica, pois nada mais é capaz de se adequar aquilo que foi, é e será, e, consequentemente, à Verdade.

Tal visão é lastimável porque, como referido, despe a Igreja de toda a sacralidade quando os católicos se encontram órfãos de Sucessor de São Pedro.

Ora, viver o Conclave como se de uma eleição se tratasse, denigre completamente a tradição milenar fundada no sangue dos mártires e nos ensinamentos dos grandes Santos e Doutores da Igreja, que durante muito laboraram para compreender as verdades reveladas da fé. Santos como Anatásio, Agostinho e Tomás de Aquino são postos de lado pela “autoridade” dos que hoje não conseguem arranhar o mínimo do transcendental.

Assim, pergunta-se: poderia o Conclave dar lugar a uma nova igreja, isto é, a uma igreja progressista?

A resposta não é tão simples como se possa imaginar. Um breve estudo da história da Igreja demonstra que a apresentação do ensinamento católico do ano 100 difere da do ano 500, sendo também diferente da do ano 1000 e da dos dias de hoje. Porém, se a doutrina católica versa sobre verdades eternas, aquilo que era verdade ontem será, necessariamente, verdade amanhã – se Cristo é Divino, será sempre Divino, e se o aborto era imoral nos tempos de Cristo, também o é hoje.

1) A doutrina pode mudar ao longo do tempo. Ora, a ideia de que a doutrina pode “evoluir” com o passar do tempo, encontra hoje mais apoiantes que nunca. Os ensinamentos morais, em especial, são vastamente vistos como passíveis de mudança à medida que as normas sociais........

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