Vai ficar tudo bem
Sempre que existe uma crise de grandes proporções em Portugal, seja ela curta, como o apagão desta semana, ou mais prolongada, como a pandemia, os políticos e decisores portugueses podem sempre contar com duas coisas. Por um lado, a esmagadora maioria dos cidadãos comportar-se-á com civismo e elevação. No apagão, por quase todo o lado, os portugueses foram ordeiros, calmos e demonstraram uma enorme paciência. Por outro lado, as elites podem contar que esses mesmos cidadãos serão poucos exigentes e tudo perdoarão. Para além disso, naturalmente, a maioria da comunicação social, com excepções, proclamará que o governo do dia fez tudo o que era possível. Tudo seguirá tranquilamente até à próxima crise.
Portugal é um caso agudo da existência do fenómeno que na ciência política se chama rally around the flag. Este comportamento é simples e está amplamente documentado na literatura científica: na presença de uma crise profunda, os cidadãos juntam-se em torno do líder, sem fazer quaisquer questões e apoiando incondicionalmente o país. Existem mecanismos psicológicos bem estudados sobre este fenómeno e, até certo ponto, a capacidade dos cidadãos se unirem em torno da liderança durante um momento complexo é positiva. No entanto, quando esse momento passa é preciso responder, no mínimo, a duas perguntas: esteve a liderança à altura da situação? O que deve ser alterado para as coisas correrem melhor?
A resposta à primeira pergunta é inequívoca. No momento mais difícil do seu mandato, Luís Montenegro e o seu governo falharam clamorosamente. Posso fazer esta informação com alguma tranquilidade por dois motivos. Sou Português e vivo em Madrid há anos. Conheço muito bem Lisboa e Madrid. Para além disso, assisti ao apagão a partir de Itália, o que me permitiu........
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