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Amar os pobres é desejar-lhes prosperidade 

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02.11.2025

A primeira grande proclamação do Papa Leão XIV é a Dilexi Te (“Amei-te”), uma exortação apostólica dirigida “a todos os Cristãos” sobre o cuidado dos pobres. O Papa Francisco preparava este texto quando faleceu. Leão concluiu o projeto e declarou estar “feliz por torná-lo meu acrescentando algumas reflexões pessoais.”

As exortações não costumam introduzir desenvolvimentos doutrinários nem analisar a complexidade das questões com o rigor de uma encíclica. Como o próprio nome indica, o objetivo de uma exortação é convidar os fiéis à ação.

Mas o que é que a Dilexi Te exorta concretamente os cristãos a fazer?

A Dilexi Te convida-os a demonstrar uma preocupação especial pelos pobres e vulneráveis, e a medir o valor de uma sociedade pela forma como os trata. O documento é bem-sucedido enquanto exercício espiritual, sobretudo pelo seu enfoque Cristológico na esmola.

O que todo o leitor crente deve compreender, contudo, é que saber como exactamente cuidar dos pobres exige conhecer os dados sobre as causas complexas da pobreza e aplicar a virtude da prudência nas soluções que se tentam adoptar.

Segundo Leão XIV, a Bíblia e os pais da Igreja, tanto do Oriente como do Ocidente, “afirmam que as oferendas, quando nascem do amor, não apenas aliviam as necessidades do irmão ou da irmã, mas também purificam o coração de quem dá.”

A vida e o ensino de Jesus, diz o Papa, mostram que “ninguém pode amar Deus sem estender o seu amor aos pobres.” O pontífice recorda que Jesus iniciou o seu ministério público numa sinagoga, declarando ter sido “ungido para anunciar a boa-nova aos pobres.”

Leão XIV sublinha como, desde os primeiros séculos da Igreja, os mosteiros, ordens religiosas e pessoas individuais levaram “a boa-nova aos pobres.” A lista é extensa: inclui Ambrósio, Agostinho, Policarpo, Justino Mártir, Cipriano, Bento, João Crisóstomo e Basílio. Aparecem também santos medievais como Domingos e Francisco, e figuras menos conhecidas como Camilo de Lellis e Vicente de Paulo.

A lista de personagens do Papa serve para demonstrar de forma irrefutável que cuidar dos pobres não é um acrescento opcional à fé Cristã. Pelo contrário, a vida Cristã e a salvação implicam ver “o próprio sofrimento de Cristo” nos “rostos humanos dos pobres.”

Dessa lista extraem-se ainda duas conclusões implícitas.

A primeira é que, embora esses exemplos de amor heroico sejam profundamente inspiradores, como Leão pretende, mostram também que a ação individual importa muito. O mesmo se aplica à caridade pessoal. O amor não é uma técnica, e não existe solução técnica para a pobreza.

A segunda implícita conclusão que podemos retirar da história apresentada pelo Papa diz respeito ao........

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