A emergência do Chega porque chega
Em 2021 escrevia nestas “páginas” que o fascismo é a emergência da liberdade e não o contrário. A emergência é algo muito querido aos físicos e significa que algo que não detetamos ao nível dos componentes de um sistema e que aparece no seu conjunto, normalmente quando deixamos os seus componentes na total liberdade.
Um dos exemplos tradicionais é a prata. Quando iluminamos átomos de prata isolados, “configuram-se” como verdes e, no entanto, a prata não é verde quando os átomos se juntam num sólido. Podemos ter uma infinidade de átomos de prata verdes a viajar pelo universo depois de inúmeras explosões de estrelas. Quando estes átomos formam um planeta como o nosso – a uma pressão na ordem de uma atmosfera e temperatura na ordem dos 280 graus Kelvin – juntam-se para formar o sólido que usamos nos talheres… prateados, não verdes.
Podemos, da mesma forma, olhar para os portugueses, conhecidos pela cultura de simpatia e educação perante os outros, na sua maioria incapazes de olhar para uma pessoa e dizer que ela não tem direito à vida, ou que os filhos dos outros deviam ser tratados como bichos ou que a infelicidade do seu vizinho não é problema deles. Individualmente, os portugueses são verdes.
Podemos passar o resto da vida a dizer que a culpa é do Ventura, dos desvarios racistas e xenófobos, das pessoas estranhíssimas que o rodeiam, mas o facto é que há cerca de um milhão e meio de pessoas que, sendo individualmente verdes, se juntam para serem prateadas por uma........
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