Uma forma histérica de fazer oposição
Ana Mendes Godinho, a deputada do PS, escreveu recentemente, no jornal Público, um texto a que deu o título de “Imigrantes. Quando a ideologia empurra trabalhadores para o beco da escravatura.” Trata-se de um artigo curto, que se lê em dois minutos e que revela que a deputada poderá saber imenso de trabalho, solidariedade e segurança social — áreas de que foi ministra —, mas quanto a escravatura pura e simplesmente não faz a mais pálida ideia do que está a dizer.
Até ao século XIX, inclusive, a palavra escravatura significava geralmente tráfico de escravos, isto é, compra, transporte e venda de pessoas escravizadas. Para nós, actualmente, a palavra significa escravidão, mas é um erro pensar a escravidão apenas em termos de trabalho. O que melhor distinguia o homem livre do escravo é que este último não era dono da sua vontade nem do seu corpo — que podia ser usado, incluindo sexualmente, pelo senhor —, e também o não era da sua prole, pois os filhos que viesse a ter poderiam ser-lhe retirados e vendidos.
Ora, em Portugal, aquilo a que actualmente estão sujeitos os imigrantes ilegais — que, com o fim do mecanismo da manifestação de interesse, Ana Mendes Godinho classifica como pessoas “sem direitos” —, nada tem que ver com escravatura, quer a entendamos como tráfico de pessoas possuídas por outrem ou como escravidão. É claro que poderá alegar-se que Ana Mendes Godinho terá usado a palavra escravatura em sentido figurado e que não há que levar-lhe a mal por isso. Todos nós o fazemos de uma forma ou de outra quando dizemos que somos escravos do trabalho, dos horários, da palavra dada, etc. Ou........
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