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Os três erros de Lídia Jorge

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19.06.2025

Parece que há dias, no Brasil, na abertura da Feira do Livro de São Paulo e durante uma palestra tripartida em que participaram igualmente Fernando Rosas e o cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa, a escritora Lídia Jorge terá afirmado que “até Portugal quer voltar a ser grande, inclusive (voltar) a esse passado colonial”. Eu não conheço o contexto em que isto terá sido dito e não quero fazer considerações sobre tal afirmação. Pergunto-me, apenas, se as opiniões políticas e inclinações ideológicas da escritora não estarão a deformar de novo a sua visão sobre os factos, como aconteceu no passado 10 de Junho.

É interessante verificar que, nesse dia e nos que se lhe seguiram, muita gente de esquerda andou a derramar-se pelas redes sociais e pelos jornais em hossanas a Lídia Jorge. Nessas saudações e louvores sortidos essa gente de esquerda acentuou a justeza da sua mensagem, a qualidade literária do seu discurso, a dimensão humana e simbólica do que então disse, e desvalorizou os flagrantes e grosseiros erros históricos que apontei no meu anterior artigo. E desvalorizou-os por duas razões: em primeiro lugar porque, por norma, as pessoas politicamente motivadas — e não apenas as de esquerda — desconsideram ou desvalorizam erros e mentiras desde que eles sirvam um propósito que, a seus olhos, seja politicamente útil e justo; em segundo lugar porque aqueles erros têm, subjacentes, ideias com as quais a esquerda concorda e de que se sente próxima.

Os erros históricos que Lídia Jorge cometeu podiam ter sido enganos menores, que acontecem a todos nós, lapsos inócuos sem grande repercussão no cerne da mensagem transmitida e sem carga política e ideológica. Por outras palavras, erros relativamente inocentes e neutros. Porém, não foi esse o caso. Cada um dos três grandes erros históricos de Lídia Jorge fundamenta uma tese explícita ou implícita, e é essencial para fundamentá-la. Todas as........

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