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Cristiana Bastos e a escravatura branca

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10.06.2025

Há afirmações e tomadas de posição que só chegam ao nosso conhecimento com grande atraso, mas que ainda assim vale a pena desmontar e confrontar porque aquilo que representam continua bem presente e actuante na nossa sociedade e no nosso meio académico. Vem isto a propósito de um artigo que publiquei no Observador (26 de agosto de 2022) e que se intitula “Escravatura branca”. Nesse artigo lamentei que a gente woke só tivesse olhos acusatórios para a escravatura que fora levada a cabo por europeus e americanos, no contexto da história colonial, ignorando ou desvalorizando a que os negros sofreram às mãos de outros povos e noutros contextos, bem como outras formas brutais de transporte e exploração de pessoas de todas as cores de pele.

Reconheci, porém, que felizmente havia excepções a essa tendência geral e mencionei, a título de exemplo, a antropóloga Cristiana Bastos, investigadora do prestigiado ICS, que escrevera um artigo no Público sobre os malefícios da economia de plantação no qual sugerira um paralelo entre as actuais condições dos imigrantes, em Odemira e outros pontos do país, e as que muitos milhares de portugueses enfrentaram em meados do século XIX, na Guiana e nas Caraíbas britânicas. E escrevi, também, que as explicações da antropóloga eram adequadas e que o seu artigo tinha tido “o mérito de chamar a atenção para aspectos mal conhecidos da história da exploração do trabalho”. Alonguei-me, depois, a explicitar as condições de transporte e formas de trabalho “quase escravo de portugueses pobres” no Brasil de meados do século XIX, condições e formas que ficaram então conhecidas por “escravatura branca”. Era, aliás, dessa forma que apareciam mencionadas nos periódicos portugueses e brasileiros e que se abordavam e debatiam nos parlamentos ainda que, como assinalei, “técnica e juridicamente não fosse(m) tráfico nem escravidão”.

Por razões à primeira vista paradoxais e incompreensíveis, esse meu artigo incomodou a antropóloga Cristiana Bastos que de imediato escreveu o seguinte na sua página de Facebook: “um........

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