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A valsa da patuleia

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27.05.2025

Num país moldado por revoluções e contrarrevoluções, onde a história se escreve muitas vezes em ciclos de esperança e desilusão, Portugal assiste hoje a um fenómeno politicamente revelador, a inversão de papéis entre as elites e o povo. Como numa valsa em que os pares trocaram de lugar, a música continua, mas poucos parecem notar que quem hoje conduz a dança já não é quem ontem dava o tom.

A palavra “patuleia”, com raízes no século XIX, designava pejorativamente a plebe, o povo comum. Foi essa mesma patuleia que, em 1846, se insurgiu contra o autoritarismo e a centralização do poder, numa guerra civil que opôs setembristas e cartistas, povo e elites. Hoje, o espírito da patuleia regressa, não com armas, mas com votos, e com uma raiva silenciosa acumulada por décadas de promessas traídas.

Curiosamente, a esquerda que durante tanto tempo se afirmou como defensora das classes populares parece ter perdido esse vínculo. A sua agenda, progressivamente focada em temas identitários e ambientais, relevantes, sim, mas muitas vezes comunicados com arrogância ou em........

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