Temos Papa
Para os que somos católicos, o Papa é o vigário de Cristo na terra e a sua eleição é um acto que resulta do discernimento do Colégio dos Cardeais assistido pelo Espírito Santo. Por isso, independentemente de significados políticos, aceitamos e obedecemos ao sucessor de Pedro em matérias de Fé e costumes expressas ex cathedra.
Infelizmente, por contágio da ignorância jornalística e comentadora e pelo sectarismo dos que, sendo ou dizendo-se católicos ou estando declaradamente fora da Igreja, parecem não perceber que o Papa nunca poderá ser nem um líder de “direita musculada” (como uns queriam) nem um líder de “esquerda libertária” (como queriam outros).
Sem dúvida que os papas também acabam por fazer política e que os seus actos também têm significado político: falando dos últimos, poder-se-ia dizer que João Paulo II e Bento XVI estavam mais depressa “à direita” e o papa Francisco mais “à esquerda”. Mas na fé e costumes, a regra foi a “hermenêutica de continuidade” de que falava o papa Ratzinger, querendo referir-se à linha geral da ortodoxia, que é a linha da Igreja dos Apóstolos e dos Mártires.
Uma continuidade no essencial, que procura guiar espiritualmente a Igreja em toda a sua diversidade de carismas ou em toda a sua catolicidade ou universalidade, não deixando nunca de estar atenta ao mundo.
Lembro-me do Concílio Vaticano II, não só pelas mudanças na liturgia, mas por uma certa liberalização a que alguns de nós, de formação “pré-conciliar”, demorámos a habituar-nos.
De qualquer forma, as mudanças propostas por Roma em determinadas matérias sempre contemplaram “isenções” ou uma certa aculturação, uma adesão ou rejeição pessoal ou regional. Por exemplo, onde foi mal recebida e até motivo de escândalo a recente bênção extra-litúgica, entendida por muitos, nomeadamente pela Conferência Episcopal Africana, como uma bênção aos “casais irregulares”, o Papa Francisco lembrou o seu carácter “facultativo”, ressalvando que, de qualquer forma, o documento Fiducia suplicans não vinha sancionar ou legitimar “uniões irregulares”, homossexuais ou outras, mas apenas propôr uma bênção que fosse sinal do amor incondicional de Deus por cada um dos Seus filhos, qualquer que fosse a sua circunstância de vida.
A Igreja não é do mundo, mas está no mundo; é feita de homems e tem de estar atenta à sua natureza. Uma natureza que muda pouco, no essencial, embora mudem as sociedades, as comunidades, os valores colectivos.
Leão XIV foi uma surpresa. Esperava-se que a escolha........
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