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Portugal – modernidade, esquerda, direita

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01.06.2025

A história política de Portugal nos últimos 200 anos, isto é, a partir da revolução liberal, é muito semelhante à dos países do sul católico europeu. O liberalismo chegou com as influências conflituantes de franceses e ingleses, nas guerras napoleónicas, cada uma também com as suas “Lojas” próprias. Assim como aconteceu na Espanha com os Carlistas, em Nápoles com os camponeses da Santa Fede do cardeal Ruffo, em França com outros camponeses da Normandia e Vendeia, tivemos, com o miguelismo, uma resistência nacional e popular às ideias da revolução. E como ficou bem claro, não só na História revista e historiada, mas também na ficção – de Teixeira de Vasconcelos a Arnaldo Gama e de Silva Gaio a Camilo – o miguelismo persistiu na sociedade portuguesa. Só que, por uma questão de princípio, os seus próceres não quiseram formar um partido e acabaram por não ter presença no espaço político-parlamentar.

Ficou uma tradição que Oliveira Martins registou no Portugal Contemporâneo, um livro incómodo para as elites liberais; e a linha política contra-revolucionária acabou por reviver com a Action Française e os movimentos que inspirou na Europa do Sul, chegando aos nossos Integralistas. É certo, também, que a queda em 1910 do ramo liberal dos Bragança, triunfante em 1834, e a sua extinção sem descendência legítima depois da morte de D. Manuel II e do pacto de Paris, trouxe para a primeira linha o ramo tradicionalista, esse ramo que a narrativa martiniana imortalizara na fórmula do “populismo” de D. Miguel, “o rei que o povo adorava”.

Patrícia Fernandes, num breve ensaio aqui publicado no Observador a 23 de Maio – Ainda faz sentido falar em esquerda e direita? –, chamava a atenção para a comunicabilidade e interdependência dos campos políticos direita e esquerda, que se iam alimentando e influenciando, também e sobretudo na contradição.

Ora o liberalismo, a partir da Regeneração e muito por acção política de Fontes Pereira de Melo, criou a estabilidade ao centro dentro de uma sociedade oligárquica, como todas as do tempo na Europa das monarquias constitucionais. Dois partidos – o Regenerador e o Progressista – sucediam-se, sem conflito, no governo, sob uma doutrina de melhoramentos materiais, obras públicas, endividamento externo.

Mas o rotativismo acabou depois da morte de D. Luís, com a fragmentação partidária. Eça de Queirós, ao escrever sobre a subida dos republicanos depois do Ultimato, defendia que o que impulsionava, em Portugal, novas forças políticas ou mudanças cíclicas de regime – por ruptura, ou dentro do regime – era o cansaço, o estar farto, o não querer mais o que estava. Por isso, quem vinha não precisava de grandes programas ou demonstrações de capacidade.

Depois, as grandes mudanças políticas no Portugal contemporâneo, no Portugal dos últimos 120 anos, vieram pela força: a República........

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