Os escolhidos
Nasci no tempo do papa Pio XII, de seu nome civil Eugenio Pacelli, com antepassados ligados à nobreza romana e ao serviço da Cúria.
O pontificado de Pio XII iniciara-se em 1939, ano do começo da Segunda Grande Guerra, e terminara em Outubro de 1958, em plena Guerra Fria. Durou quase 20 anos, o Papa Pacelli. Era um papa conservador, que deixou rasgados elogios a Salazar, que dele conservava um retrato em moldura de prata em lugar destacado.
Pio XII foi caluniado como cúmplice silencioso de Hitler e do nazismo. Viveu a seguir a 1945, bem de perto, o perigo comunista, a ocupação da Europa Oriental e, no Ocidente, com os partidos de Moscovo. Foi, no aspecto político, um papa anticomunista. Como fora antinazista, ao contrário das campanhas de assassinato moral da peça do alemão Rolf Hochuth, Der Stellvertreter (o Vigário), que o acusava de cúmplice do Holocausto. Nesse tempo também havia fake news, que os bons progressistas disseminavam alegremente.
João XXIII, Angelo Roncalli antes do papado, arcebispo de Veneza, foi uma surpresa eleitoral. Tinha vivido bem no centro do sangrento século XX, entre a Grande Guerra, onde fora capelão militar, e a Segunda Guerra Mundial, a mais terrível de todas as guerras, num século dominado pela ameaça do totalitarismo comunista e pela resposta radical do hitlerismo, por genocídios de classe e de raça, pela guerra civil europeia e pelo fim do Euromundo e de uma geopolítica em que os europeus, com os seus impérios, dominavam a Ásia e a África. Na Igreja, João XXIII convocou o Concílio Vaticano II, um momento polémico, que pretendeu pôr a Igreja de Cristo mais próxima do mundo moderno. Familiar dos desastres da guerra pela sua experiência na capelania militar durante a Grande Guerra, João XXIII ajudou, entre 1939 e 1945, a salvar milhares de judeus. Daí a Pacem in Terris, pensada no tempo da crise de Cuba.
O Concílio Vaticano II representou a tentativa de Aggiornamento da Igreja com o mundo, ainda que os críticos do Concílio dissessem que a missão da Igreja era mais fazer o Aggiornamento do mundo com a Igreja. A Igreja fora perseguida pela modernidade política, primeiro pelos liberais, depois pelos socialistas e comunistas e respondera condenando essas forças sucessivamente. O Concílio foi visto como uma trégua e um compromisso, uma mão estendida.
João XXIII convocou o concílio pela bula Humanae Salutis, mas morreu antes da sua conclusão, no fim da primavera de 1963. Esteve em Fátima em 13 de Maio de 1956, presidindo à peregrinação. Do Concílio, que inaugurou oito meses antes de morrer, saíram reformas, entre elas a missa rezada nas línguas nacionais – e não em latim – e com o celebrante voltado para os fiéis. Muitas destas reformas já estavam no pensamento e na prática de Pio XII.
O sucessor de João XXIII foi o cardeal Montini, arcebispo de Milão; Montini trabalhara muitos anos na Secretaria de Estado, chegando a Secretário de Estado de Pio XII. Giovanni Battista Montini – doutorado em Direito Canónico pela Universidade Católica de Milão – prosseguira os estudos filosóficos e literários na Universidade Gregoriana, iniciando, ao mesmo tempo, uma carreira na Secretaria de Estado da Santa Sé. O cardeal Montini sucedeu a João XXIII no conclave realizado entre 19 e 21 de Junho de 1963. Foi eleito à sexta votação; os seus concorrentes eram o mais “liberal” Giacomo Lercaro, arcebispo de Bolonha, e o mais........
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