O grande imaginador: nos 120 anos de Júlio Verne
Júlio Verne, popularmente considerado o precursor ou o antepassado próximo da literatura de ficção científica, morreu há 120 anos, a 24 de Março de 1905.
Fui desde cedo um leitor apaixonado da ficção científica que me chegou, como à maior parte dos da minha geração, pela colecção Argonauta dos Livros do Brasil. A Argonauta apareceu em 1953, e foi talvez em 1956, nas vésperas de entrar para o liceu D. Manuel II, que comecei a ler os livros, à medida que iam saindo. E fi-lo regularmente, aí até ao número 200.
Li os primeiros números no Verão, numa praia da Foz do Douro, uma dessas praias do Estado Novo dos anos 50 cheias de regras e rituais – com cabo do mar, baloiços, fatos de banho com peitilho ou camisola interior e três horas de “digestão”. Horas sagradas, que tínhamos de passar “a descansar”, entre o almoço frugal de sanduiches mistas e o banho das cinco da tarde.
Anos mais tarde, no Algarve, o meu sobrinho Pedro havia de me perguntar: “Tio Jaime, acredita na digestão?” Nessa altura já tinha perdido “a fé”, mas quando era novo, todos acreditávamos na digestão. E mesmo que não acreditássemos tínhamos de recolher à barraca durante três horas, independentemente das nossas crenças e vontades. Por isso, foi estendido na toalha de franjas, debaixo da lona grossa da barraca que li muita Argonauta (também se acreditava que não era bom apanhar o sol a pique da hora do almoço e que a leitura não fazia mal ao estômago).
Os livros, em formato de bolso, tinham umas capas lindas, de Lima de Freitas e de Cândido Costa Pinto. Eram de Costa Pinto a capa do primeiro número da colecção – Perdidos na Estratosfera, de A. M. Low – e a de A Sexta Coluna, de Robert Heinlein, um verdadeiro épico do género que então me impressionou consideravelmente. E foi assim que fui descobrindo os grandes escritores da Science Fiction: a poesia das Crónicas Marcianas, de Ray Bradbury, que em Fahrenheit 451 identificou uma distopia de destruição de livros cara aos totalitários de todas as tribos; os robots e a robótica e os ciclos históricos da Fundação e do Império, de Isaac Asimov; Arthur C. Clarke e a sua Odisseia no Espaço; o extraordinário mundo feudal de Frank Herbert,........
© Observador
