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Caravaggio: luz e sombra

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20.04.2025

Vi nestes últimos dias de Quaresma A Sombra de Caravaggio, um filme de Michele Placido, o mesmo Michel Placido que, nos anos 80, se tornou popular como o inspector Corrado Cattani, o herói de La Piovra, O Polvo, a longa série sobre a Máfia.

Esta fita de Placido realizador é a história de Michelangelo Merisi da Caravaggio, o grande pintor do Tardo-Renascimento e dos princípios do Barroco que nasceu em Milão em 1571 e morreu em condições misteriosas, próximo de Roma, em 18 de Julho de 1610.

Quem olhar a obra de Caravaggio não pode ficar indiferente ao que nela há de pioneiro, de revolucionário, de genial. E não é só o choque técnico do “tenebroso”, do “chiaroscuro”, o uso e abuso da cor que o identifica e que vai influenciar pintores espanhóis, como Ribera ou Velásquez, os holandeses da Escola de Utreque e até Rembrandt e Georges de La Tour. Não falando da sua discípula italiana, Artemisia Gentileschi.

Não é só isso, não é só a luz que faz com que um crítico e historiador de Arte venha escrever que “é com Caravaggio que começa a pintura moderna”. Há também, na mais de meia centena de obras que nos deixou, um realismo e um naturalismo que se distinguem de outros modos de desenhar e de pintar a realidade e o sagrado. Porque, vivendo em Roma, cidade e terra sob soberania papal, com os cardeais oriundos das grandes famílias da Cidade Santa a darem papas à Igreja e a aristocracia e os ricos a encomendarem trabalho aos artistas, não é de estranhar que Caravaggio fosse sobretudo um pintor religioso, ou um pintor do sagrado.

Porém, nas suas obras religiosas, por força da liberdade e do realismo que o caracterizam, não se inibe de representar com audácia os corpos e as vestes de santos, santas e do próprio Cristo e da Virgem, ou de usar como modelos para as cenas bíblicas ou evangélicas vagabundos e mulheres da vida. De resto, Caravaggio tinha costumes dissolutos e uma sexualidade promíscua e pouco ortodoxa e uma vida privada (mas do conhecimento público) cheia de acidentes e incidentes violentos.

De........

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