Será culpa dos europeus?
Que ironia do destino! Um dia depois de mais uma manifestação da esquerda e da extrema-esquerda contra as alegadas “violências policiais” dirigidas a estrangeiros extra-europeus (ou “não caucasianos”, se assim preferirem), eis que dezenas desses mesmos estrangeiros decidem envolver-se em confrontos à paulada e à facada. Curiosamente, os dirigentes do BE, do PCP e do PS mantiveram-se silenciosos. As razões do conflito? Questões políticas, segundo o líder da comunidade do Bangladesh, que descreveu o episódio como uma “situação normal” no país deles (fonte). Não se preocupem, amigos, é tudo perfeitamente normal! Podemos dormir em paz. Talvez estivessem a lutar por divergências filosóficas: uns a defender Platão, os outros, Aristóteles. Certamente, teríamos muito a aprender com eles, não fosse a nossa intolerância a impedir-nos.
No seguimento deste acontecimento, comentadores, jornalistas, professores e políticos, tanto à direita como à esquerda, abordaram a questão da imigração. A conclusão final, seja de comentadores de esquerda ou de direita, acaba por ser sempre a mesma: a culpa recai invariavelmente sobre os europeus, que não souberam integrar certas populações. Há poucos dias, ouvi um comentador português admitir que existem, de facto, problemas relacionados com a imigração e com gangues de imigrantes, mas que, como afirmou a primeira-ministra da Suécia, “falhámos em integrar estas populações”. Ou seja, a culpa é sempre nossa. Por falta de recursos? Por sermos xenófobos? Por sermos islamófobos? Ou, quem sabe, por não conseguirem adaptar-se à nossa comida? Tendo em conta que o nosso PM, Luís Montenegro, afirma que Portugal precisa de mais 30 a 40 anos de imigração, que modelo devemos implementar para evitar problemas como os da rua Benformoso? Um modelo assimilacionista ao estilo da direita “republicana” ou um modelo multiculturalista à moda da esquerda?
O modelo assimilacionista teve a sua origem em França, aquando da Terceira República (1870-1940). Este modelo, tantas vezes alvo de críticas por parte de intelectuais de esquerda, demonstrou-se extremamente eficaz durante a Terceira República, a Quarta e os primeiros anos da Quinta República. O Estado francês, por meio do sistema de educação nacional – considerado, em tempos, o melhor do mundo, superando até o Japão e a Coreia nos anos 60 (até ao impacto de Maio de 68, que comprometeu profundamente o sistema de ensino) – formava os filhos de imigrantes polacos, italianos, espanhóis, portugueses, etc, transformando-os em pequenos franceses. Quantos franceses de origem polaca e italiana deram a vida em nome da França durante a Primeira Guerra Mundial? O meu bisavô, do lado francês da minha família, combateu durante quatro anos na Primeira Guerra, apesar de ser de origem alemã. Em cartas, relatava não saber se teria morto primos no decurso da guerra, mas, tendo nascido em França, considerava natural lutar por ela e, se necessário fosse, sacrificar a vida em seu nome. O modelo de assimilação francês foi bem-sucedido enquanto as vagas migratórias provinham de países pertencentes à mesma civilização – greco-romana,........
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