A minha Tasca fechou
Como a vida, tudo tem um fim. E no dia 28 de Março de 2025, após mais de 30 anos de serviço, a minha tasquinha onde tantas vezes me fui reconfortar nos anos em que trabalhei na Baixa de Lisboa, fechou. O ritual era simples. Ao entrar dirigia-me ao lavatório de porcelana para lavar as mãos. Neste caminho de cerca de 10 segundos, já o dono, o Sr. Baião, me tinha topado e decidido o que iria ser o meu almoço. Entre os dois pratos de peixe e outros tantos de carne que compunham o menu, o Sr. Baião já me ia conhecendo os gostos. “Jovem, hoje vai comer aqui um …”. “Maravilha, Sr. Baião, pode por aí a toalha ao Balcão, por favor” Sempre ao Balcão.
Enquanto lavava as mãos, a frase de fundo, direccionada para a cozinha, era sempre a mesma “sai uma dose de … para o Benfiquista”. A D. Maria da Conceição lá atrás já sabia que eu tinha chegado. E, antes de vir cá fora partilhar a alegria da vitória gloriosa ou reclamar daquela decisão do malvado árbitro que apitara o último jogo do Benfica, já me tinha preparado o almoço que me daria a energia para o resto dia. O Sr. Carlos servia às mesas e, volta e meia, entre tantos cumprimentos lá me entornava um pingo de café para as calças num daqueles acidentes que só acontece a quem trabalha. Era vê-lo em sufoco à procura do tira nódoas para garantir que eu não saía daquela casa infeliz. O Sr. Fernando, seu colega, repartia o serviço de mesa. O Sr. Fernando é o pináculo do melhor........
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