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"Tudo é permitido, mas nem tudo convém"

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08.01.2025

Entre os labirintos da palavra e o eco das interpretações, repousa uma verdade que é tanto desconfortável quanto inegável: a liberdade de expressão não é apenas um direito, mas também uma responsabilidade. Esta responsabilidade manifesta-se na forma como ponderamos o impacto das nossas palavras sobre os outros. Por exemplo, ao criticar uma ideia, devemos assegurar que a nossa abordagem fomente o diálogo em vez de gerar ressentimento. Da mesma forma, ao defender uma posição, cabe-nos garantir que a nossa linguagem não perpetue estereótipos ou amplifique desigualdades existentes. Ao citar o apóstolo Paulo — “Tudo é permitido, mas nem tudo convém” —, somos desafiados a reavaliar não apenas o que dizemos, mas também o porquê e o como dizemos. Este convite à reflexão revela-se particularmente pertinente num momento em que o debate público parece muitas vezes reduzido a um mercado de rótulos ideológicos, onde cada palavra dita é rapidamente catalogada como sendo de esquerda ou de direita, progressista ou conservadora, inclusiva ou retrógrada.

Porém, será possível que esta compulsão por rotular nos impeça de compreender plenamente o verdadeiro conteúdo e intenção de um texto? Há algo profundamente irónico na rapidez com que ‘liberdade’ e ‘expressão’ se transformam em armas de polarização, esquecendo-se que o diálogo é tanto mais rico quanto mais diversa é a polifonia das vozes.

A liberdade de expressão pode ser comparada a uma orquestra. Cada instrumento representa uma voz única, essencial para a harmonia coletiva. No entanto, quando um instrumento se torna excessivamente alto ou domina a melodia, a sinfonia perde a sua beleza e sentido. Neste contexto, responsabilidade significa encontrar um equilíbrio:........

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