Segurança de Estado e cultura institucional
O “nacional porreirismo português” é, infelizmente, um traço cultural enraizado na identidade coletiva do país. No seio do Estado, observa-se frequentemente uma tolerância excessiva, incompetência reconhecida e complacência absoluta perante problemas estruturais graves. Embora essa mentalidade possa promover uma convivência social pacífica e uma abordagem descontraída aos desafios do quotidiano, o seu lado perverso manifesta-se na banalização da irresponsabilidade e na aceitação do “deixa andar”.
Os recentes escândalos da “pen drive com dados de agentes secretos” e do “portátil do adjunto de Galamba” ilustram como essa mentalidade afeta a segurança nacional. O mais alarmante não é apenas a ocorrência destas falhas, mas a forma como são rapidamente relativizadas. O padrão de reação é previsível: primeiro, minimiza-se o problema; depois, encontra-se um bode expiatório; e, por fim, o caso esgota-se no espaço mediático sem qualquer consequência real. A lógica do “logo se vê” impera, sustentada pela ideia de que o assunto “não deve ser assim tão grave” e que “daqui a dias já ninguém fala nisso”.
A “cultura do desenrasca”, embora vantajosa em algumas situações, torna-se perigosa quando aplicada a questões críticas do Estado. Num mundo cada vez mais instável geopoliticamente, Portugal continua a tratar segurança interna, defesa, espionagem e cibersegurança como preocupações secundárias, enquanto outros países reforçam constantemente os seus sistemas de proteção.
Este desleixo também se reflete na forma como as........
© Observador
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